Pupo Gimenez, um talento formando talentos
Você sabia que Neto, Evair, Wagner Mancini e Cafu entre outros...
Você sabia que Neto, Evair, Wagner Mancini e Cafu entre outros craques do futebol brasileiros foram lapidados por Antonio Maria Pupo Gimenes? Ele completou recentemente 77 anos, 50 deles dedicados ao futebol, sobretudo como "organizador de categorias de base". Gimenes recebeu a reportagem do Diário em sua residência, na rua Paulino da Silva Lavandeira (Fragata) e falou sobre sua trajetória profissional, desde o trabalho desenvolvido na várzea mariliense, nos anos 50, até a ascensão ao São Paulo Futebol Clube. Também elegeu Ênio Andrade como um dos melhores técnicos de todos os tempos, fez duras críticas à Lei Pelé – "uma mãe para os empresários" – e garantiu que Jorginho Putinatti, ex-craque do Mac e Palmeiras, era mais jogador que os Ronaldinhos e Kaká.
Antonio Maria Pupo Gimenes nasceu em 31 de agosto de 1931 na cidade paulista de Presidente Alves. Filho do espanhol e administrador de fazendas, Antonio Gimenes de Castilho e Maria Luiza Pupo Gimenez, veio para Marília com apenas quatro anos e dividiu a infância e a juventude na fazenda Santa Ana e na casa da avenida Nelson Spielman, 882. Autodidata, é casado com Odete dos Santos Gimenes, com quem tem três filhos, Rogério, Rosana Cristina e Ana Paula. É avô de Bruno, Nathalia, Izabela, Lucas, Victor Hugo e João Paulo. Seus irmãos Carlos, Juventino e Ismael já faleceram; Diva reside em São Paulo e os outros, Izaias, Sidney (Negadinha); Eunice e Maria Luiza moram em Marília.
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Jornal Diário de Marília – Como o senhor começou a carreira no futebol?
Antonio Maria Pupo Gimenes – Foi na várzea, como treinador da equipe juvenil da Associação Atlética São Bento nos anos 50. Treinei depois a Esportiva Cascata, do diretor Toshio Motoiama, que ganhou muitos títulos na época. Em 1959 dirigi o Corinthians Mariliense, presidido pelo inesquecível Alcides Matiuzzi, da Predileta. Queria ressaltar que o "seo" Alcides merecia um busto na Sampaio Vidal, porque esse homem fez muito pelo esporte, ajudando equipes e atletas. Sei que seu filho Carlos Alberto vem dando grande apoio ao amadorismo.
Diário – O senhor exercia outra atividade nesse período?
Gimenes – Sim, trabalhava na Mesbla e duas vezes por semana, após às 17h, treinava o Corinthians Mariliense que disputava também a 3ª divisão do Paulista. O time era fantástico, tanto que em pouco tempo muitos jogadores se profissionalizaram no São Bento. Jogavam o Jurandir de Freitas (foi depois para o São Paulo e campeão mundial pela Seleção Brasileira em 1962, no Chile, como reserva do Zózimo); o Fausto e o Bandeira. Tinha craques como o Benito, Vardo e o Cid, que por motivos particulares não fizeram carreira.
Diário – Qual sua primeira equipe profissional?
Gimenes – Indicado pelo amigo Milton Bastos, treinei em 1963 o Clube Atlético Ourinhense, que disputava a 2ª divisão do Paulista.
Diário – Quando começou a trabalhar no Marília Atlético Clube?
Gimenes – Em 1973 eu dirigia o União Bandeirantes (PR) e recebi um convite do Pedro Pavão para organizar o trabalho de base do time. Aceitei para poder ficar mais perto da família, pois meus filhos eram todos pequenos. Pesou também que no Mac, além do Pavão, havia no departamento amador diretores sérios, competentes e determinados como o Gilberto Pastori, Leandro Presumido e o Nilo Muller.
Diário – E quando veio a primeira safra de jovens talentos?
Gimenes – Logo depois, com Jorginho, Márcio Rossini, Carlos Alberto Borges, Zé Ivan, Amadeu, Sérgio, Luís Silvio, Roberto, Sérgio Nery, Luiz Andrade, Paulo César Borges e outros. Fomos campeões do Interior, perdendo o título para o Palmeiras. Esse grupo foi a base do brilhante elenco de 1979, que sob o comando do Walter Zaparolli, conquistou a Taça São Paulo de Juniores. A partir desse feito fiquei rotulado como um profissional excelente para trabalhar com garotos.
Diário – E essa fama espalhou-se rapidamente, né?
Gimenes – Sim, após oito anos de Mac fui para o Guarani em 1982, onde trabalhei em períodos alternados por sete anos. Ganhamos também uma Taça São Paulo em 1994, numa final emocionante contra a equipe são-paulina.
Diário – E por falar no Morumbi, quando o senhor foi pra lá?
Gimenes – A primeira vez em 1986, convidado pelo Juvenal Juvêncio para auxiliar o Cilinho na equipe de aspirantes. Em 1990 cheguei a substituir o técnico Carlos Alberto Silva e dirigi a equipe principal em todo segundo turno do Paulista. Também tive uma passagem pelo Corinthians (1995/96) onde uma vitória contra a Ponte Preta somou mais uma Taça São Paulo no meu currículo. Em 2006 voltei para o São Paulo onde continuo até hoje.
Diário – O São Paulo é o clube brasileiro mais estruturado?
Gimenes – Exatamente, não tem comparação. É administrado por pessoas que realmente pensam na grandeza do clube. Acredito, sem exagero, que o São Paulo deva estar 50 anos à frente dos outros e nunca mais será alcançado. Todos seus departamentos são eficientes e o Centro de Treinamento em Cotia é um dos mais modernos do mundo, o que facilita a revelação de craques.
Diário – A função de observador técnico necessita de algum curso?
Gimenes – Não, o importante é você ver um garoto treinando e jogando e ser capaz de fazer uma projeção de como ele estará tecnicamente daqui a dois ou três anos. Modéstia à parte, não é uma função para qualquer um. Exige muita habilidade e disposição para percorrer os gramados brasileiros.
Diário – Quais jogadores o senhor revelou e que brilharam na carreira?
Gimenes – Não considero "jogador que revelei", mas sim atletas que trabalharam comigo e com certeza acrescentei detalhes técnicos que os ajudaram na carreira. Além daqueles do Mac, posso citar o Neto, Evair, João Paulo, Zetti, Wagner Mancini, Gil Baiano, Renato, Martinez, Mauro Silva, Cafu, Antônio Carlos, Doriva, Elivelton e por aí vai.
Diário – Teve algum que dava muito problema?
Giemenes – O Neto era muito genioso, mas sempre foi autêntico. É claro que deixava alguns técnicos de cabeça quente. Mas comigo ele se portava bem. Aliás, orgulho-me de dizer que ele me considera seu segundo pai. Quem não o conhece pessoalmente, não sabe a magnífica figura que é. O Neto tem o coração maior que o peito.
Diário – E o jogador de convivência mais amistosa?
Gimenes – Sem dúvida, o Cafu. Mesmo quando era pobre, nunca tirou o sorriso do rosto, se dando bem com o grupo e departamento técnico.
Diário – E quantos aos técnicos brasileiros?
Gimenes – Trabalhei com os melhores dos últimos 20 anos: Wanderley Luxemburgo, Carlos Alberto Parreira, Carlos Alberto Silva, Cilinho, Candinho, Gainette, Cláudio Duarte e Ênio Andrade.
Diário – E o "Oscar" vai para quem?
Gimenes – O Ênio Andrade. Auxiliei-o no Guarani. Ênio foi várias vezes campeão brasileiro, inclusive no Coritiba. Ele não ministrava nenhum rachão e dois-toques. Quando ele chegou ao Guarani, foi logo dizendo: "Se eu tivesse 11 Pelés no time, daria rachão e dois-toques toques todo dia, que são treinos de vagabundos. Como não tenho nenhum Pelé, vamos trabalhar". Ele era um mestre em virar o jogo no intervalo. Um verdadeiro gênio, incompreendido em São Paulo.
Diário – E o Luxemburgo?
Gimenes – Passei pelo Bragantino (1991) e lá estava o Luxemburgo no comando. É extremamente profissional e motivador como ninguém. Durante a semana desenvolve muitas atividades com o grupo e exige bastante de cada atleta. Um dos fatores de suas inúmeras conquistas é que sempre procurou ter na retaguarda uma comissão técnica de alto nível.
Diário – Por que os clubes não conseguem mais segurar os jogadores?
Gimenes – Em virtude dessa famigerada Lei Pelé, que só veio beneficiar os empresários. O garoto, antes de completar 16 anos, não pode ser profissionalizado. Para burlar a lei, o empresário leva o jovem para jogar num time europeu, junto com a família, e arruma até emprego para os pais. Lá se paga muito bem.
Diário – E o que o São Paulo faz para evitar esse assédio?
Gimenes – Nós alojamos os garotos de 13 e 14 anos com uma boa ajuda de custo e os de 15 anos, que são destaques, têm salário estipulado e contrato, e quando completam 16 anos são registrados na Federação. Foi a saída que o clube encontrou para ter mais segurança, principalmente aumentando a multa rescisória em até 100 vezes o salário do jovem. Quem tem estrutura financeira ainda consegue manter o jogador e evitar que ele seja "roubado". No geral, a maioria dos clubes brasileiros está sendo prejudicada pela Lei Pelé e muitos estão à beira da falência.
Diário – Que comparação pode fazer do futebol de antigamente com o de hoje?
Gimenes – Hoje o que prevalece é a marcação, ou seja, a preocupação de não se deixar jogar. O preparo físico está superando a técnica e quando ele superar a inteligência, o futebol terá chegado ao fim.
Diário – O Jorginho tinha uma inteligência incomum, não é?
Gimenes – Exatamente, ele no auge da sua forma física e técnica seria melhor que o Ronaldo Fenômeno e o Ronaldinho Gaúcho. Com relação ao Kaká, o Jorginho era mais rápido e inteligente, além de pegar melhor na bola. Por aí você vê em que clube ele estaria hoje e quanto seria o seu salário. Queria aproveitar o espaço para citar um jogador do juvenil do Matarazzo e do Corinthians Mariliense, que se tivesse os treinamentos que os atletas têm hoje, toda essa estrutura envolvendo preparação física aliada à alta tecnologia, nutricionismo, entre outros avanços, seria hoje o melhor jogador do futebol brasileiro. Seu nome, Benito Fiorini.
Diário – O futebol lhe rendeu um bom pé-de-meia?
Gimenes – Até encerrar a fase do Mac, os salários eram muito baixos. Tinha como preocupação estudar meus filhos em boas escolas, formá-los e ajudá-los comprar um imóvel. Isso eu consegui. O Rogério é bacharel em Direito, a Rosana formada em Letras e Arquitetura e a Ana Paula é dentista. Missão cumprida!
Diário – O que mais lhe proporcionou o futebol?
Gimenes – A oportunidade de conhecer os cinco continentes, sempre a trabalho. Só para o Japão fui quatro vezes. Em 1996 fui convidado para ministrar um simpósio nos EUA (Colorado) para 140 treinadores norte-americanos. Enfim, foram inúmeras viagens, realizando, na maioria das vezes, clínicas de futebol.
Diário – Qual a maior satisfação no futebol? E a decepção?
Gimenes – A maior alegria foi ter sido convidado para dirigir a Seleção Brasileira sub-20 no Pan de Mar Del Plata, na Argentina, em 1995. A frustração foi ter dado errado dois convites que tive para trabalhar no Japão. Fui traído por alguns "colegas" brasileiros que já estavam por lá.
Diário – Sobre o Mac, com quais dirigentes o senhor trabalhou?
Gimenes – Nos oito anos de Mac fui supervisor, auxiliar e até treinador da equipe principal. Posso dizer que peguei a era do Pedro Pavão, um desportista dinâmico e competente, que teve a sorte de ter ao seu lado bons diretores, como o Zezinho Gonçalves, Domingos Oléa, Haru e outros. A época era diferente, não havia essa maldita Lei Pelé. O Mac, na ocasião, negociava três atletas e equilibrava as finanças. Hoje, como já disse, quem fatura são os empresários.
Diário – Como o senhor explica a difícil situação por que passa o Mac?
Gimenes – Clube do interior que não tiver uma retaguarda financeira, que depender só de bilheteria e patrocínio da camisa, está fadado à crise. Enquanto o Mac teve o Luiz Antônio Duarte Ferreira, o Cai-Cai, fez boas campanhas. Parece que agora está tendo que caminhar com as próprias pernas, com apoio restrito, o que complica demais.
Diário – E o senhor tem alguma receita para o Tigrão escapar desse declínio?
Gimenes – A solução seria fazer um planejamento inteligente antes do início do campeonato. Contratar um técnico com antecedência e que ele conheça bem a competição que vai disputar. A diretoria deve contratar qualidade, e não quantidade. Espero que o nosso Marília consiga sair dessa zona da degola.
Diário – Hoje tem eleição. Em quem o senhor vai votar?
Gimenes - Pode falar?
Diário – Não, é melhor o senhor deixar uma mensagem para o eleitor.
Gimenes – Nasci em Presidente Alves, mas me considero mariliense. Que Deus ilumine nossos eleitores no dia de hoje, para que eles saibam escolher as pessoas de bem, pessoas compromissadas com a coragem, verdade, trabalho e honestidade, pois só assim nossa cidade será conduzida ao lugar que merece.
Crédito : Vadinho Doreto - Jornal Diário de Marília
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