Tupã F.C.
Em pé: Eliseu Jaccoud (diretor), Barros, Vicente, Costa, Marinho, Sorocaba e Benites. Agachados: Ellison, Mendonça, Ademir de Menezes, Beto, Ceci e Damas
Crédito: site do Milton Neves
Crédito: site do Milton Neves
Ademir em Tupã
Por Lucídio José de Oliveira
Início dos anos 50. Quem mandava no futebol brasileiro era o Vasco. O Vasco que era o Expresso da Vitória, base da Seleção Brasileira. O time havia sido armado nos meados da década anterior. Ondino Viera, treinador uruguaio, foi quem desenhou e construiu a partir de 1944, a respeitável e imponente nau cruzmaltina, um time difícil de ser batido. Perdeu o título na última rodada, nos minutos finais de um Flamengo x Vasco histórico. Flamengo 1x0, gol de Valido. Mas acabou campeão invicto em 1945. Flávio Costa, campeão pelo Flamengo em 44, mudando de lado, foi quem deu continuidade à caminhada vitoriosa. Campeão invicto com o Vasco, não uma mas duas vezes, em 47 e 49. No início dos anos 50, o time do Vasco continuou a pisada. Com a mesma base, quase que com os mesmos jogadores, seria ainda bicampeão em 1950, campeão em 52.
Em todo esse rosário de títulos, uma estrela. O pernambucano Ademir de Menezes. Só não foi campeão em 47, porque se encontrava naquele ano ainda em plena lua de mel, se bem que passageira, com o Fluminense, para onde se tinha bandeado em 1946, depois de apelo dramático, e profético, de Gentil Cardoso, então treinador nas Laranjeiras. “Dêem-me Ademir e eu darei o campeonato!” No final do ano, em dezembro, com Ademir deitando e rolando, o tricolor era supercampeão carioca, numa decisão também histórica, contra Botafogo, Flamengo e América, todos com o mesmo número de pontos na rodada final. O Vasco, sem Ademir, tinha ficado de fora.
Ademir pintou e bordou nos gramados cariocas antes de 50. Em São Januário, nas Laranjeiras, na Gávea ou em Campos Sales. E depois de 50, no Maracanã. Num tempo em que o ataque era escalado com cinco nomes – a linha de forward -, Ademir esteve em todas as cinco posições. De uma ponta à outra, da extrema-direita à esquerda. Sempre com a mesma eficiência e brilho. Sempre como artilheiro que não perdoava. Os pesquisadores vão encontrar nos sites da vida, fotos do Vasco com o nosso Ademir em todas as posições da linha dianteira. Na Seleção, no comando do ataque, como aconteceu na Copa de 50, ou feito ponta-de-lança ou até mesmo na ponta-esquerda, como ocorreu nos Sul-Americanos de 45 e 46, abrindo vaga para que o também mitológico Heleno de Freitas ocupasse a posição principal da linha de frente.
É esse Ademir, lendário e famoso, que vamos encontrar no bem abastecido site de Mílton Neves, numa foto rara e curiosa. A foto merece uma crônica, razão pela qual está sendo exibida, ilustrando o nosso relato.
A fotografia é do Tupã Futebol Clube, time da cidade homônima do interior paulista. Fica a 530 km da capital, na Alta Paulista, cidade fundada por um pernambucano, Luiz de Souza Leão, no já distante ano de 1929.
Ademir no comando do ataque do time de Tupã? Como pode ser isso? Ademir ainda não tinha largado o futebol. Fiquei curioso. Ainda mais que meu irmão, Lucilo, engenheiro-civil, nascido e formado aqui em Pernambuco, lá em Tupã reside há mais de 50 anos. Por mim consultado, o mano deu a dica e confirmou: o time da foto é mesmo o Tupã Futebol Clube, hoje, e há muitos anos, participante do Campeonato Paulista das divisões inferiores. Como e quais as razões para Ademir ir parar em terras tão distantes? É o que desejava decifrar.
Jogo amistoso, aniversário da cidade, comemorações pelo jubileu de prata. Aconteceu em 1954, já se aproximando o final da carreira do grande Ademir. O Vasco foi convidado a participar das festividades exatamente por conta de Ademir, artilheiro da Copa do Mundo, quatro anos antes. Na Copa perdida para os uruguaios, a copa do Maracanazo. Em Tupã, para o maior brilho da festa, jogou um tempo pelo Vasco, o outro pelo time da cidade. A fotografia foi tirada naturalmente para a documentação do fato histórico. Mas não foi fácil descobrir os detalhes desse jogo. A memória do mano não podia dar conta de todos eles, se bem que recorda ter estado presente nas arquibancadas e ter assistido à partida festiva. Ver Ademir, artilheiro da Copa do Mundo, ao vivo, quem não desejava? Um privilégio. Ainda mais que, fissurado em futebol, acompanhara quando estudante aqui no Recife, o início de carreira de Ademir, recém-saído dos juvenis, em 1941, artilheiro e campeão invicto pelo Sport.
Quem poderia então tudo esclarecer? Claro, o catarinense Valdir Appel, ex-goleiro do Vasco, escritor e senhor do excelente blog “Na Boca do Gol”, título tirado do livro que fez sucesso e onde narra com estilo e refinado humor suas aventuras de goleiro andarilho. É que Valdir sabe tudo sobre a vida do clube da Cruz de Malta. Valdir jogou por mais de dez clubes por esse imenso Brasil, inclusive no Sport, mas seu coração mora mesmo é em São Januário. Não todo, porque um bom pedaço ficou em Natal, no Rio Grande do Norte. Do Vasco, porém, Valdir conhece tudo.
Apelei para o amigo. As informações vieram com a presteza desejada e sobretudo, como já era por mim esperado, com a precisão do que vem de Valdir. O pesquisador vascaíno Mauro Prais, amigo de Valdir, completou as informações, fechando a história. O jogo consta da relação dos jogos do time da Cruz de Malta no site NetVasco. Somente data e placar. Confirmei pessoalmente esse dado. A ficha do jogo histórico, segundo Mauro, é a que segue abaixo:
Vasco 0x1 Tupã (SP).
Data: 30 de junho de 1954.
Local: Tupã/SP.
Árbitro: Querubim da Silva Torres
Time do Vasco: Barbosa, Bellini, Elias, Mirim (Amaury), Adésio (Laerte), Beto, Friaça (Vadinho), Ademir (Iêdo), Vavá, Alvinho e Hélio.
Uma observação: na escalação do Vasco, além de Ademir, dois outros pernambucanos. O centromédio Adésio e o comandante de ataque Vavá. Vavá dispensa apresentação. Adésio, pouco lembrado, foi titular da nossa Seleção Olímpica em Helsinque/1952, seleção que contava no ataque também com Vavá. Era a primeira participação do Brasil na disputa da Medalha Olímpica no futebol. Mas essa é outra história. Será contada em outra oportunidade. É só aguardar.
Por Lucídio José de Oliveira
Início dos anos 50. Quem mandava no futebol brasileiro era o Vasco. O Vasco que era o Expresso da Vitória, base da Seleção Brasileira. O time havia sido armado nos meados da década anterior. Ondino Viera, treinador uruguaio, foi quem desenhou e construiu a partir de 1944, a respeitável e imponente nau cruzmaltina, um time difícil de ser batido. Perdeu o título na última rodada, nos minutos finais de um Flamengo x Vasco histórico. Flamengo 1x0, gol de Valido. Mas acabou campeão invicto em 1945. Flávio Costa, campeão pelo Flamengo em 44, mudando de lado, foi quem deu continuidade à caminhada vitoriosa. Campeão invicto com o Vasco, não uma mas duas vezes, em 47 e 49. No início dos anos 50, o time do Vasco continuou a pisada. Com a mesma base, quase que com os mesmos jogadores, seria ainda bicampeão em 1950, campeão em 52.
Em todo esse rosário de títulos, uma estrela. O pernambucano Ademir de Menezes. Só não foi campeão em 47, porque se encontrava naquele ano ainda em plena lua de mel, se bem que passageira, com o Fluminense, para onde se tinha bandeado em 1946, depois de apelo dramático, e profético, de Gentil Cardoso, então treinador nas Laranjeiras. “Dêem-me Ademir e eu darei o campeonato!” No final do ano, em dezembro, com Ademir deitando e rolando, o tricolor era supercampeão carioca, numa decisão também histórica, contra Botafogo, Flamengo e América, todos com o mesmo número de pontos na rodada final. O Vasco, sem Ademir, tinha ficado de fora.
Ademir pintou e bordou nos gramados cariocas antes de 50. Em São Januário, nas Laranjeiras, na Gávea ou em Campos Sales. E depois de 50, no Maracanã. Num tempo em que o ataque era escalado com cinco nomes – a linha de forward -, Ademir esteve em todas as cinco posições. De uma ponta à outra, da extrema-direita à esquerda. Sempre com a mesma eficiência e brilho. Sempre como artilheiro que não perdoava. Os pesquisadores vão encontrar nos sites da vida, fotos do Vasco com o nosso Ademir em todas as posições da linha dianteira. Na Seleção, no comando do ataque, como aconteceu na Copa de 50, ou feito ponta-de-lança ou até mesmo na ponta-esquerda, como ocorreu nos Sul-Americanos de 45 e 46, abrindo vaga para que o também mitológico Heleno de Freitas ocupasse a posição principal da linha de frente.
É esse Ademir, lendário e famoso, que vamos encontrar no bem abastecido site de Mílton Neves, numa foto rara e curiosa. A foto merece uma crônica, razão pela qual está sendo exibida, ilustrando o nosso relato.
A fotografia é do Tupã Futebol Clube, time da cidade homônima do interior paulista. Fica a 530 km da capital, na Alta Paulista, cidade fundada por um pernambucano, Luiz de Souza Leão, no já distante ano de 1929.
Ademir no comando do ataque do time de Tupã? Como pode ser isso? Ademir ainda não tinha largado o futebol. Fiquei curioso. Ainda mais que meu irmão, Lucilo, engenheiro-civil, nascido e formado aqui em Pernambuco, lá em Tupã reside há mais de 50 anos. Por mim consultado, o mano deu a dica e confirmou: o time da foto é mesmo o Tupã Futebol Clube, hoje, e há muitos anos, participante do Campeonato Paulista das divisões inferiores. Como e quais as razões para Ademir ir parar em terras tão distantes? É o que desejava decifrar.
Jogo amistoso, aniversário da cidade, comemorações pelo jubileu de prata. Aconteceu em 1954, já se aproximando o final da carreira do grande Ademir. O Vasco foi convidado a participar das festividades exatamente por conta de Ademir, artilheiro da Copa do Mundo, quatro anos antes. Na Copa perdida para os uruguaios, a copa do Maracanazo. Em Tupã, para o maior brilho da festa, jogou um tempo pelo Vasco, o outro pelo time da cidade. A fotografia foi tirada naturalmente para a documentação do fato histórico. Mas não foi fácil descobrir os detalhes desse jogo. A memória do mano não podia dar conta de todos eles, se bem que recorda ter estado presente nas arquibancadas e ter assistido à partida festiva. Ver Ademir, artilheiro da Copa do Mundo, ao vivo, quem não desejava? Um privilégio. Ainda mais que, fissurado em futebol, acompanhara quando estudante aqui no Recife, o início de carreira de Ademir, recém-saído dos juvenis, em 1941, artilheiro e campeão invicto pelo Sport.
Quem poderia então tudo esclarecer? Claro, o catarinense Valdir Appel, ex-goleiro do Vasco, escritor e senhor do excelente blog “Na Boca do Gol”, título tirado do livro que fez sucesso e onde narra com estilo e refinado humor suas aventuras de goleiro andarilho. É que Valdir sabe tudo sobre a vida do clube da Cruz de Malta. Valdir jogou por mais de dez clubes por esse imenso Brasil, inclusive no Sport, mas seu coração mora mesmo é em São Januário. Não todo, porque um bom pedaço ficou em Natal, no Rio Grande do Norte. Do Vasco, porém, Valdir conhece tudo.
Apelei para o amigo. As informações vieram com a presteza desejada e sobretudo, como já era por mim esperado, com a precisão do que vem de Valdir. O pesquisador vascaíno Mauro Prais, amigo de Valdir, completou as informações, fechando a história. O jogo consta da relação dos jogos do time da Cruz de Malta no site NetVasco. Somente data e placar. Confirmei pessoalmente esse dado. A ficha do jogo histórico, segundo Mauro, é a que segue abaixo:
Vasco 0x1 Tupã (SP).
Data: 30 de junho de 1954.
Local: Tupã/SP.
Árbitro: Querubim da Silva Torres
Time do Vasco: Barbosa, Bellini, Elias, Mirim (Amaury), Adésio (Laerte), Beto, Friaça (Vadinho), Ademir (Iêdo), Vavá, Alvinho e Hélio.
Uma observação: na escalação do Vasco, além de Ademir, dois outros pernambucanos. O centromédio Adésio e o comandante de ataque Vavá. Vavá dispensa apresentação. Adésio, pouco lembrado, foi titular da nossa Seleção Olímpica em Helsinque/1952, seleção que contava no ataque também com Vavá. Era a primeira participação do Brasil na disputa da Medalha Olímpica no futebol. Mas essa é outra história. Será contada em outra oportunidade. É só aguardar.
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