Um dos grandes centroavantes do futebol brasileiro chegou a atuar pelo Marília Atlético Clube (MAC) na década de 70. Trata-se de Sérgio Bernardino, conhecido como Serginho Chulapa. Maior artilheiro da história do São Paulo Futebol Clube (243 gols), o jogador chegou ao alviceleste em 1973, emprestado das categorias de base do Tricolor Paulista, quando tinha apenas 19 anos.
Ainda chamado só de Sérgio, o jogador chegou à cidade junto com os pontas Mauro e Guará. Todos jogavam nas categorias de base do São Paulo, que aceitou emprestá-los em troca do centroavante maqueano Itamar. O interesse dos dirigentes da capital no atleta alviceleste foi oficializado após um amistoso realizado no Estádio Bento de Abreu entre as duas equipes, no dia 24 de junho de 1973, na vitória do Tricolor por 2 a 0, com dois gols de Pedro Rocha.
Serginho foi descoberto pelo ‘mestre’ Telê Santana (técnico das categorias de base do São Paulo na época), segundo o site sempretricolor.com.br. O jogador foi emprestado ao MAC para ganhar experiência. No começo da carreira, Chulapa não jogava de centroavante (posição que o consagrou), mas sim como ponta-esquerda.
“Ele não tinha características de um ponteiro. Atuava nessa posição jogadores quem era baixinhos, fortes e velocistas. O Serginho era o contrário de tudo isso. Era alto, magrelo e lento, mas chegou a fazer bons jogos com a camisa do MAC”, lembrou o auxiliar-técnico da época, Antonio Maria Pupo Gimenes (79 anos). O time era comandado por Urubatão Calvo Nunes, que faleceu esse ano.
Primeiro jogo
Serginho Chulapa estreou com a camisa alviceleste no dia 4 de julho de 1973, em um amistoso contra o Barretos, no Abreuzão. O ponta-esquerda marcou os dois gols da vitória por 2 a 1. Foi seu primeiro jogo como profissional. Porém, o jogador não teve o mesmo brilho no restante de sua passagem pelo Tigre, que durou seis meses. O ponteiro maqueano fez 22 partidas e anotou somente cinco gols. O atleta defendeu o Marília no Torneio José Ermírio de Moraes e em parte do Paulistinha (divisão de acesso).
Um dos cinco gols feitos por Serginho chamou a atenção do ex-goleiro Neuri Cordeiro (atualmente apresentador de TV), com quem jogou na época. No dia 23 de setembro pelo Paulistinha de 73, na vitória contra a Ponte Preta por 3 a 0, no Abreuzão, Chulapa fez o segundo gol maqueano aos 11 minutos do 2º tempo. “Ele tinha um chute forte com a perna esquerda e do meio-campo ele arriscou e fez um belo gol”.
Neuri lembra que quando jogou em Marília, Serginho não era um jogador “briguento”, como ficou também marcado na carreira. “Era um menino brincalhão e agitado. Na concentração só ele falava. Era uma pessoa muito amiga”. Pupo Gimenes lembrou que o garoto, com 19 anos na época, gostava muito de música.
Pupo e Neuri foram unânimes em dizer que não esperavam que Serginho fosse deslanchar na carreira. “Todo mundo achava que o Mauro (outro que veio emprestado junto com Sergio) é que teria um futuro promissor. Ele era um ponta-direita forte e velocista e era mais jogador. O Mauro chegou a jogar no Cruzeiro e na Seleção Brasileira, mas não teve o mesmo sucesso do Chulapa”, ressaltou o ex-goleiro.
Verdade ou mentira
Em dezembro de 1973, Serginho voltou para o São Paulo e tempos depois, já como centroavante, foi artilheiro do Campeonato Paulista de 1975, com 22 gols. Entretanto, o jogador sempre evitou voltar a Marília. Diz a lenda que quando jogou no MAC, Chulapa teria engravidado uma moça e que o pai o teria ameaçado de morte.
“Não acredito que tenha sido esse o motivo. Convivi muito tempo com o Serginho no São Paulo e ele nunca me falou sobre isso. Eu lembro que na época não só ele, como outros jogadores tinham namorada, mas que eu saiba ninguém tinha engravidado nenhuma das moças”, frisou Pupo Gimenez.
“O que eu sei que é verdade é que ele não vinha para Marília por causa da distância - ele reclamava da viagem - e por causa de uma dupla de zaga do MAC de 1978, que era formada por Rubão e Renato. Os dois chegavam firme nas jogadas e os atacantes não gostavam. O Careca (São Paulo), que não era de pipocar, me falava também que jogar em Marília contra os dois era complicado, pois ambos batiam demais”, explicou Gimenes, que na época foi o treinador maqueano.
Pupo lembrou de uma história contada no Tricolor, no embarque do São Paulo para Marília. “Na hora de subir para o ônibus, o Serginho teria acusado uma distensão muscular, quando subia a escada. E com isso não viajou”, relembra.
O jornalista José Renato Sátiro Santiago Jr também contou uma dessas histórias, no blog do também jornalista Vitor Birner. “Dizem que certa vez, em um jogo no Morumbi no meio da semana, o falecido e fantástico árbitro Dulcídio Wanderley Boschilla apitava um jogo do São Paulo e começou a ser gratuitamente xingado por Serginho. Durante o intervalo, Dulcídio foi se informar sobre qual seria o próximo jogo do São Paulo. Era contra o MAC, em Marília. Tão logo, as equipes voltaram, Dulcídio chamou Chulapa e falou: “Negão, você pode até “matar” alguém em campo, que eu não te expulsarei” e ainda completou “Você vai para Marília, Negão!!!”
Dizem que a partir daquele momento, Chulapa se acalmou e apenas ao final do jogo falou algo. Levantou o braço em direção do banco de reserva e pediu substituição, alegando ter se machucado. Resultado, Serginho não jogou em Marília.
Na próxima quinta-feira, Serginho Chulapa completará 57 anos. Atualmente ele trabalha na comissão técnico do Santos.
FOTO: Arquivo Rubens Coca Ramos
MAC de 1973: (em pé da esq. para dir.) Térsio, Edson, Ede, Toninho II, Dorival e Djalma. (agachados) Toninho Bodini, Nei, Pulga, Piorra e Serginho Chulapa. |
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